sábado, 24 de janeiro de 2009

"Prisioneiros de gotas d'água, não passamos de animais perpétuos." (O Espelho sem aço, de Max Ernst)



Sua boca estava seca, mas só havia espaço para meio copo d'água.
Sem entusiasmo beberia com goles miúdos o líquido neutro.
Ao entrar na cozinha, avista com desdém o galão d'água vazio.
Resolve então abrir a geladeira:

"Tudo vazio.", pensara ela, já refém da água de torneira de Porto Alegre.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Ensaios e recomeços


Ela não estava lá.
Fechava os olhos, como de costume, e ousava acreditar que tudo se apagava, tal como nos jogos de esconde-esconde.
Sentia-se cega.
Sugada pelos buracos negros de seus próprios olhos, metendo-se de corpo e alma em túneis intermináveis. Ela simplesmente pairava sob a escuridão desviante.

Em sua cabeça leve e oca ecoavam, de um lado a outro, os sons agudos da noite.
Havia ali um sonar constante, semelhante ao dos grilos que imperavam em seu quarto de infância durante as noites sem vento.

Com as pernas pesadas, mal podia mover-se.
Embriagada de uma sonolência inevitável,
ela sentia, naquele instante, todo o seu ser alojar-se no estômago.
Definitivamente, naquela noite, ela não iria jantar.