sábado, 7 de fevereiro de 2015

Mucugê - Cemitério Bizantino

 

Da cidadezinha de Mucugê avisto a montanha que brilha junto àqueles que habitam o sono eterno.
É no pé deste rochedo cinzento que brota esta outra Mucugê ainda mais diminuta, uma delicadeza em estilo bizantino e gótico. Ela é toda branca, feito as nuvens que tenta abraçar. Alva a ponto de alfinetar os olhos de seus transeuntes. Suas casinhas têm arestas imprecisas e arredondadas que marcam os limites do que os olhos, imunes à morte, não podem focar. Por um instante, esqueço que o tempo existe e me deixo flutuar nesta atmosfera luminosa que obriga o olhar a se voltar para dentro e o corpo, a levitar entre rochedos.
Essas moradas se erguem do branco dos ossos dos garimpeiros que seguiram viagem, dos filhos que fugiram dos braços das mães que choram, dos velhos que cumpriram seu destino, dos amantes que agora só flertam em sonho.
Atrás do véu da saudade, as duas Mucugês convivem em um diálogo silencioso, lembrando aos vivos e aos mortos que estamos apenas de passagem e lançando-nos a promessa de um encontro possível entre os beijos das rochas e das nuvens.









Mucugê e a escrita branca sobre branco

"Mais um instante só... E rompe-se o véu...A terra...O que é da terra...Ao céu...ao que é do céu! "