As mãos deslisam sobre o volante, engatam marchas e movem o veículo. Tudo é transitório. As imagens se borram enquanto o olho (des)atento escorre pela cidade. No sinal vermelho o corpo pára. O olhar fixa-se na panturrilha. A velocidade do motoqueiro faz tudo apagar-se novamente. Prédios imensos alocam-se na retina que percorre as estruturas em construção. Céus! A panturrilha! Ela está imóvel no sinal. Sim, o sinal está vermelho. Pés chutam o freio com força, antecipando a parada brusca. As rodas travam, o carro deslisa até parar no sinal. Aliviada penso: salve a panturrilha, este coração venoso periférico que move o mundo! Intacta, a outra continuava lá, contraindo-se livremente a pulsar pelas ruas da cidade.
quinta-feira, 17 de julho de 2008
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2 comentários:
VOLUBILIS
um arado de cobalto
sulca o graveto dos hiatos
e fibra a fribra equilibra
o passo em falso sobre a ravina
na marcha da vereda pedregosa
de merenda e panturrilha
dois alforjes de begônias
duas trombetas de ametistas:
um cantil de regaço e látego
no estuque dos palácios
cacos de um telhado de vidro
e pus pelo poro se estrugindo:
nó na malha fina de pua e bilro
ou pura sarça de losna e trigo
na fartura dessa melhor oliva
de olor e combustível
na polvadeira das farinhas
um forno que transubstancia
o aziago pálido das tílias
tangendo harpas de ventania
diademas de organdis
e couraça de traje eqüestre
na pose de cajado ou báculo
do soberano em seu cavalo:
os protocolos do sinto muito
dos servos sem cadastro.
marcusfabiano@terra.com.br
: :
Muito bonito, crônicas do cotidiano urbano!
Humano-máquina de tráfego concreto e tráfico de imagens.
Nossa! E mais um poema escondido!
oniros.com.br
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