Ao mergulhar nele, deparava-se com alguns pontos luminosos pulsantes, que lhe apontavam limites ou, quem sabe, saídas. Pontos claros que, feito estrelas, iluminavam a noite, revelando um brilho intenso que rasgava a superfície de olhos lacrimejantes. Ela,então, encontrava sua própria imagem refletida. Ver-se ali a reconfortava.
Nesses dias de mergulho, costumava também sonhar com uma noite clara,em que ela não teria mais medo do escuro, nem do silêncio. Nessa noite, os seus suspiros áridos cessariam e ela experimentaria a vida menos grave, apenas submergindo. Um mergulho sem volta, que transformaria todo o oco de seu umbigo em um grande orifício de
baleia. Pouco a pouco, seu corpo se moldaria à correnteza, ausentando-se de todo peso. E ela permaneceria sonhando com o dia em que serviria de isca aos olhos da criança pega de surpresa, ao brincar com o caniço na beira do rio que a transformara.
Nesse dia, como um raio de luz na tempestade, ela seria o motivo de todo espanto, o próprio desconhecido. Ao despertar do sono provocado pelas sombras daquele homem misterioso, ela sentiu saudades de certos fluidos, de tantas neblinas que um dia romperam, agudamente, a divisão entre luz e penumbra, entre homem e mulher.
Take Away Show #106 _ PABLO MALAURIE (part 1) from vincent moon / temporary areas on Vimeo.
Take Away Show #106 _ PABLO MALAURIE (part 2) from vincent moon / temporary areas on Vimeo.
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