sábado, 8 de janeiro de 2011
Pequenas inundações
Impedida de pensar pelo mormaço que atravessa as paredes de sua casa, ela sente todo o seu corpo amolecer. O próprio pensamento está lento e a cabeça pesa. Estirada no sofá, respirar lhe basta. Será? Ao longe, avista um amarelo intenso. É a luva solitária a brilhar sobre o granito negro no tanque da despensa. No sofá, primeiro se deslocam as pernas e os pés, depois as mãos e os braços e, por fim, a pesada cabeça. Ela está de pé a caminho da luva amarela, comungando com seus fragmentos. Suas mãos pegam a luva, um sopro a torna balão, com a torneira ligada, a água lhe dá peso e uma forma engraçada, a mão está submersa. Não há um furo sequer. Sua mão encontra seu lugar neste pequeno esconderijo inundado e deslizante, onde os pequenos prazeres parecem escorregar por entre os dedos.
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