“O vácuo é tão concreto quanto os corpos sólidos.” (Lucrécio, De rerum natura)
A mostra “Interseção”, de Diego Amaral e Marília Bianchini,
com curadoria de Lilian Maus, parte da intenção, como o título indica,
de exibir os pontos em comum entre duas linhas recentes de produção
artística que, por caminhos distintos, reforçam os estados experimentais
da fotografia. O resultado desse encontro é uma sintonia inusitada
entre imagens ambivalentes. Enquanto Diego Amaral
ocupa o chão da sala principal, evocando o peso e a opacidade da
imagem, a partir da associação de pedras a autorretratos em escala
natural, Marília Bianchini ressalta o imaterial, ao trazer a leveza
e a transparência em suas fotomontagens de varais de roupas suspensas
por delicados alfinetes nas paredes da galeria. Na sala cilíndrica, os
artistas exibem um projeto inédito realizado em co-autoria, partindo da
ideia do instantâneo na fotografia, além disso, são apresentados
trabalhos individuais anteriores no hall de entrada.
Na mostra, o gesto presente
na captura, edição e apresentação de imagens ganha evidência. A partir
dele, os artistas convidam-nos a perceber a fotografia não apenas como índice do real, mas como espaço de experimentação artística. Nos trabalhos de Marília e Diego
o suporte fala, ele informa, remetendo-nos à consistência das coisas.
Se os resultados dos trabalhos apontam, com uma ironia melancólica, para
grandezas distintas dos corpos como o peso e a leveza,
a opacidade e a transparência, talvez o nosso desafio enquanto
espectadores seja mantermo-nos dispostos a oscilar entre os opostos,
como se pudéssemos, durante a exposição, levitar entre os rochedos.
Lilian Maus
Porto Alegre, janeiro de 2011
Espaço Cultural ESPM
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