Na arte do século XIX e XX há um enfoque maior sobre a ideia de "paisagem" e, dentro deste contexto, T.S. Eliot recuperará o sublime mar em sua poesia, com sua onda terrível e, ao mesmo tempo, deslumbrante.
Marina
(...)
O gurupés no gelo se espedaça, a pintura ao calor estala.
Eu o fiz, e esqueci
E recordo.
A cordoalha frouxa e o velame em farrapos
Entre certo junho e outro setembro.
E o fiz desconhecido, semiconsciente, ignoto, meu.
O verdugo da carcaça faz água, as fendas reclamam o calafate.
Esta forma, este rosto, esta vida
Vivendo por viver numa esfera de tempo que me excede. Que
eu possa
Renunciar à minha vida por esta vida, à minha fala pelo
inexpresso,
O desperto, lábios abertos, a esperança, os novos barcos.
Que mares que praias que graníticas ilhas contra minha
quilha
E que tordo chama através a neblina
Minha filha.
(fragmento do poema de T. S. Eliot)
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Vale aqui uma nota sobre o tordo, que pode ser tanto um tipo de pássaro, como de peixe. Como se pudéssemos, nessa atmosfera úmida, vislumbrar nas profundezas do mAR esses dois tipos de mergulho, entre leveza e gravidade, oscilando entre sombra e luz, como o branco e negro intercalam-se no pêlo do tordilho.
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Abaixo está a obra The Rejalma, pintada pelo artista holandês Jeronimus van Diest, em 1673. A pintura integra a exposição "Mare Nostrum: The Rejalma e a arte das marinhas", realizada na galeria Ruben Berta de julho a agosto de 2016, em Porto Alegre/RS, com curadoria de Flávio Krawczyk. A obra é a mais antiga do acervo do estado e foi doada pela viúva do Ruben Berta à pinacoteca, que inspirou também este post.
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