segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Contíguo: dois modos de aproximação visual em torno de um relato comum - por María Jesús Montes (tradução Lilian Maus)


Texto da exposição CONTIGUO -
Francisca Montes e Claudia Lee, em uma parceria entre Galería Metropolitana e ECARTA, tradução de Lilian Maus

 

Me sinto pequena porque me esmaga a vida e os homens, entre os quais nasci.
Quero infinitude porque me afoga o finito. Nesses sublimes delírios minha alma se arranca de sua esfera e, quando volta a ela, que tortura, que ânsia de liberdade!
Quando em minhas longas noites de ausência mundana medito e converso com o Ser Supremo,
sinto que me crescem asas e que meus olhos se engrandecem para olhar a pequenez do corpo celeste.

Como meu cérebro miserável, verme invisível, tem sido capaz de imaginar possuir tudo,
desafiando à sublime grandeza
que ele não podia compreender, porque não pode conceber um pigmeu de um titã?
Teresa Wilms Montt, Diários Íntimos.
As obras que conformam Contíguo surgem como resultado da análise de campo em torno do parque André Jarland, localizado na comuna de Pedro Aguirre Cerda. Ambas obras revelam, através de sua própria linguagem, um lugar que é, ao mesmo tempo, relato de uma historia que resiste em desaparecer. Parque, canteiro, depósito, metamorfoses e coerções, às vezes frustradas, que desenham e des-desenham os limites da sua presença.
Sem fins de comparação mínima dos resultados de ambos, posso perceber dois caminhos cruzados e percorridos pela história do olhar e da percepção. Enquanto Halo 5 dialoga com olhar distanciado, a razão e o intelecto, El sueño de Don Bosco concentra-se na imanência presente no centro das coisas, dos objetos, da matéria. Desse modo, complementam-se um ao outro, transcrevendo em seu diálogo um problema que os transcendem e que colocam em relação duas maneiras de nos vincularmos com o mundo. Ao mesmo tempo, constituem nossa experiência sensível. No primeiro, nossos olhos se engrandecem para ver, a partir da distância aparente, a pequenez do corpo celeste, por meio da observação das aparências exteriores. No segundo, apreendemos a unidade oculta da matéria através do tato, imerso em suas qualidades orgânicas.


Dos conceitos até os objetos, da luz aos resíduos. 



Halo 5, todo inteligência, condensa em seu percurso um tipo de visão, o modo como nos aproximamos, desconfiados e severos, das coisas examinadas de longe, cartografando sua existência, profundidade, texturas e margens. Quem observa e compara suas forças com as de outro não chega a tocar e jamais se submerge. Como poderíamos ser capazes de distinguir suas formas se estivéssemos afogados até o pescoço nelas? Por tanto se retrai, como um pássaro de prata; que se converte em seus olhos e em sua memória, graças a ele focaliza, enquadra, examina os relevos e peculiaridades de um relato. 


A linha, elemento primário do desenho depois do ponto, projetada com luz, perfila um círculo, este torna-se visível graças à distância aérea. Seu vôo começa com o acaso, a medida em que a luz do dia se desvanece, apresenta-nos uma demarcação desenhada de maneira artificial, esse gesto comemora o relato de uma tragédia, um rito de morte que é frágil e imaterial. É o círculo um símbolo primogênito, é a forma que contém todas as formas, o símbolo do céu refletido na terra, uma manifestação arquetípica do sol. Em Halo 5, observamos um reflexo lumínico do sol que projeta sua luz invertida, sua forma surge desde baixo até em cima, produzindo uma imagem insólita e, quando chega a esse ponto, quase faz sua a frase que Goya esconde sob um de seus desenhos: “El sueño de la Razón produce monstruos” (O sonho da razão produz monstros).



El sueño de Don Bosco confronta a presença da humanidade nos vestígios precários dos seus descartes. Claudia Lee coleciona objetos pouco duráveis, impuros, nos quais se intui a ação humana de adquirir, consumir y descartar. Dispostos de tal maneira que todos eles formam um monte de diversas opacidades, no qual se destacam as cores vermelha, amarela e azul celeste. 


Algo há de devoto no gesto de selecionar e trabalhar cada peça como se fosse uma pedra valiosa, separando as impurezas delas, que põem em perigo sua transparência simbólica. Claudia as limpa, despeja e recobre fragmentos de sua iconologia para sublinhar só um elemento: a cordilheira, a fonte patronal ou o copo de leite. Sua mediocridade estética tem sido deslocada, sua condição de descarte sublimada como uma imagem devota por meio do modelado, a presença humana se torna difusa e é aí que reside sua singularidade epistemológica. Os degraus do tempo se apagaram, sua insignificância contratual com o humano mostram, em um giro poético, uma fração de nossa história sonhada durante o espaço da ação que concebeu esses objetos. Lee outorga um peso quase religioso a esses dejetos, intuindo neles a parte escura de uma narrativa nacional.


Certamente na nossa pequena complexidade pigmeia é impossível conceber titãs. Podemos refletir em torno da natureza do nosso próprio olhar. Suas rupturas, fusões e pressões prefiguram uma qualidade cindida, que é, ao mesmo tempo, óptica e háptica/tátil. Graças a ela possuímos a atitude dual de tomar distância, abrindo asas com o propósito de construirmos um olhar racional, altivo e paterno. No entanto, sob a força de nossa constituição tátil, precipitamo-nos até um universo no qual já fomos pedra, sedimento ou lava. Para apreender é também necessário ver com as mãos.


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Texto Original:
Me siento pequeña porque me aplasta la vida y los hombres entre los que  nací.
Quiero infinidad porque me  ahoga lo finito. En estos sublimes delirios mi alma se arranca de su esfera, y cuando vuelve a ella ¡qué tortura, qué ansía de libertad!
Cuando en mis largas noches de ausencia mundana medito y converso con el Ser Supremo,
siento que me crecen alas y que mis ojos se agrandan para mirar la pequeñez del orbe.
¿Cómo mi cerebro miserable, como gusano invisible, ha podido imaginar poseerlo todo,
desafiando a la sublime grandeza,
que él no podía comprenderla porque no puede concebir un pigmeo a un titán?
Teresa Wilms Montt, Diarios Íntimos.

Contiguo; dos modos de aproximación visual en torno a un relato común.

Las obras que conforman Contiguo surgen como resultado del análisis de campo en torno al parque André Jarland ubicado en la comuna de Pedro Aguirre Cerda. Ambas obras revelan, a través de su propio lenguaje, un lugar que es al mismo tiempo relato de una historia que se resiste a desaparecer. Parque, cantera, vertedero; metamorfosis y coerciones, a veces frustradas, que dibujan y des-dibujan los límites de su presencia.
Sin ánimos de comparar en lo más mínimo ambos resultados, puedo percibir dos caminos cruzados y recorridos por la historia de la mirada y la percepción. Mientras Halo 5 dialoga con la mirada desde la distancia, la razón y el intelecto, El sueño de Don Bosco se concentra en la inmanencia presente en el centro de las cosas, los objetos; la materia. De esta manera se completan la una a la otra, transcriben en su dialogo un problema que las trasciende y que se relaciona con dos maneras de vincularnos con el mundo, y al mismo tiempo constituye nuestra experiencia sensible. En el primero nuestros ojos se agrandan, para mirar desde la distancia aparente la pequeñez del orbe, a través de la observación de las apariencias exteriores y en el segundo aprehendemos la unidad oculta de la materia a través del tacto, inmerso en sus cualidades orgánicas.
De los conceptos al objeto, de la luz a los residuos.
Halo 5, todo inteligencia, condensa en su recorrido un tipo de visión, la manera en cómo me aproximo a las cosas; las examina desde lejos, desconfiada y severa, cartografiando su existencia, su profundidad, textura y margen. Es quien observa y compara sus fuerzas con las del otro, no llega a tocar, jamás se sumerge ¿Cómo podría ser capaz de distinguir sus formas si estuviera hundida hasta el cuello en ellas? Por tanto se retrae, como un pájaro de plata; quién se convierte en sus ojos y en su memoria, gracias a él enfoca, encuadra y examina los relieves y particularidades de un relato.
La línea; elemento primario del dibujo después del punto, proyectada con luz perfila un círculo, este se hace visible gracias a la distancia aérea. Su vuelo comienza en el ocaso, a medida que la luz del día se desvanece se nos presenta una demarcación dibujada de manera artificial, este gesto conmemora el relato de una tragedia, un hito de muerte que es frágil e inmaterial. Es el círculo un símbolo primigenio, es la forma que contiene todas las formas, es símbolo del cielo reflejado en la tierra, es la manifestación arquetípica del sol. En Halo 5, observamos un reflejo lumínico del sol que proyecta su luz invertida, su forma surge desde abajo hacia arriba produciendo una imagen insólita, llegado a ese punto, casi hace suya la frase que Goya esconde bajo uno de sus dibujos: El sueño de la Razón produce monstruos.
El sueño de Don Bosco, nos enfrenta a la presencia de la humanidad en los vestigios precarios de sus desechos. Claudia Lee colecciona objetos poco perdurables, impuros, en los cuales se intuye la acción humana de adquirir, consumir y desechar. Dispuestos de tal manera que todos ellos forman una cumbre de diversas opacidades, en la cual destacan los colores rojo, amarillo y celeste.
Algo hay de devoto en el gesto de seleccionar y trabajar cada pieza como si de una piedra valiosa se tratara, apartando de ellas las impurezas que ponen en peligro su transparencia simbólica; las limpia, despeja y cubre fragmentos de su iconología para subrayar sólo un elemento, la cordillera, la fuente patronal o el vaso de leche.
Su mediocridad estética ha sido desplazada, su condición de desecho sublimada cual imagen votiva por medio del modelado, la presencia humana se torna difusa y es ahí que radica su singularidad epistemológica. Se ha borrado el paso el tiempo, su insignificancia contractual con lo humano, muestran en un giro poético una fracción de nuestra historia, soñados durante el espacio de la acción que les dio existencia; Lee le otorga una pesadez casi religiosa a estos despojos, intuye en ellos la parte oscura de una narrativa nacional. 
Si bien es cierto que en nuestra pequeña complexión pigmea es imposible concebir titanes, podemos reflexionar en torno a la naturaleza de nuestra propia mirada, sus rupturas, fusiones y presiones prefiguran una cualidad escindida, que es al mismo tiempo óptica y háptica. Gracias a ella poseemos la aptitud dual de tomar distancia, desplegar alas con el propósito de hacernos con una mirada racional, altiva, paterna. Sin embargo y a fuerza de nuestra constitución táctil, nos precipitamos hacia un universo en el que hemos sido, piedra, sedimento o lava. Para poder aprehender es también necesario ver con las manos.  

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