segunda-feira, 29 de março de 2010

Nelson Goodman e o "quando é arte?"

Artigo esclarecedor sobre Nelson Goodman.
por Isabel Rosete, 2007


Alguns Dilemas da Estética Contemporânea: Arte e Simbolização

http://isabelrosere.multiply.com/journal/item/9/9

Paralelos entre a arte e o sorriso

Lendo uma entrevista de Waltércio Caldas a Felipe Scovino no livro lançado recentemente "Arquivos Contemporâneos", retirei uma pérola poética da fala de Waltércio. A referência dele foi "O nascimento da arte", de George Bataille. Estou louca pra ler. Aí vai aproximadamente o dito:

A arte e o sorriso nasceram na mesma época e pelo mesmo motivo: no espanto do homem a perceber-se mortal.

terça-feira, 23 de março de 2010

O grande mistério da vida - André Malraux

"O grande mistério não é termos sido lançados aqui ao acaso, entre a profusão da matéria e das estrelas: é que, da nossa própria prisão, de dentro de nós mesmos, conseguimos extrair imagens suficientemente poderosas para negar a nossa insignificância."

André Malraux in A Condição Humana, 1933.

domingo, 21 de março de 2010

Vídeo sobre Rauschenberg e sua obra Erased De Kooning

Vale a pena assistir o vídeo!

http://mais.uol.com.br/view/9c508uckp29e/robert-rauschenberg-fala-sobre-a-obra-erased-de-kooning-040268D09933E6?types=A&

Algumas curiosidades de René Magritte

Encontrei este texto com alguns dados biográficos de René Magritte:


"Magritte os odiava [dados biográficos], e irritar um artista já falecido é uma atitude que ele certamente aprovaria do alto de seu pedestal surrealista. "Detesto meu passado, assim como o de qualquer pessoa. Detesto a resignação, a paciência, o heroísmo profissional e os belos sentimentos obrigatórios. Também detesto as artes decorativas, o folclore, a publicidade, vozes anunciando algo, a aerodinâmica, os escoteiros, o cheiro de naftalina, fatos do dia, e gente bêbada." Tomemos, pois, mais um gole de uísque e continuemos com os dados biográficos."

"Magritte pouco se lembrava da própria infância, e suas memórias ficariam melhor num de seus quadros que numa autobiografia, já que se referem a fantasias de padre, a misteriosos baús e a eventos estranhos como um par de balonistas com roupas de couro que ficaram presos ao teto de sua casa, com o respectivo balão murcho e inútil. Junto a este enevoado de lembranças, aparece a morte da mãe de Magritte, afogada em 1912. O pai mudou-se então, com René e seus dois irmãos, para Charleroi, onde o artista conheceria sua futura esposa e modelo de muitas telas, Georgette Berger."

Fonte: http://www.burburinho.com/20030427.html


Deu-me uma vontade enorme de pesquisar mais a fundo esta história.

Sobre a imagem acima, uma fotografia da obra "A Tempestade", de Magritte, pergunto:

Seria um presságio da tempestade ou talvez a metáfora de dois amantes?
Seria uma junção de fragmentos ou uma denúncia da separação originária?
Ou seria antes uma décollage conceitual, em que esses fragmentos de imagens aludem a diferentes tempos (a imobilidade dos cubos, a tensão das nuvens a prometer movimento, o céu num límpido gradiente de azuis)?

O que me parece mais intrigante nesta imagem talvez nunca me ocorresse se estivéssemos frente a frente: a interferência sutil do aparato fotográfico que a captou. Olhando com cuidado, é possível perceber uma janela ao fundo, uma espécie de reflexo sutil do provável vidro que protege a obra. Pouco a pouco, esses resíduos impregnados na transparente (será?) superfície do vidro revelam todo um mise-en-scène, rico em silhuetas, janelas, paredes, outras pinturas. Um outro mundo cabe na tela, fazendo da imagem uma janela/espelho, inviolável enquanto projeção refletida, mas também permeável aos mergulhos que nos levam para dentro de nós mesmos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

quinta-feira, 18 de março de 2010

Achados de Joan Brossa: o museu portátil

Joan Brossa, artista catalão nascido em 1919, possui uma obra vigorosa e intrigante. Teve passagem pelo Brasil e manteve trocas com alguns poetas concretos brasileiros.

Segundo Marcelo Terça-Nada:

"Toda sua vida pode ser vista como um processo de experimentação constante que resultou numa impressionante obra plástica e poética: numerosos trabalhos de poesia em verso, poesia visual, poesia objeto, instalações, poemas transitáveis (esculturas-poema em locais públicos), poemas cênicos (textos para teatro) e roteiros cinematográficos." (http://marcelonada.redezero.org/artigos/joan-brossa.html)

Achei essa fotografia fantástica, obra titulada Museu (1996), queria eu tê-la feito!
Muita confluência com o que venho pensando... uma lição e tanto!


quarta-feira, 10 de março de 2010

Rimbaud - "Porque Eu é um outro"

"Porque Eu é um outro. Se o cobre se descobre clarim, não há aí nada de culpa sua. Isso é evidente para mim: assisto à eclosão do meu pensamento: vejo-a, escuto-a: lanço um movimento com o arco: a sinfonia vai abalando as profundezas, ou salta de repente para o palco."

Fragmento de CARTAS DO VISIONÁRIO, de Arthur Rimbaud para GEORGES IZAMBARD
Charleville, [13] de Maio de 1871

Maurice Nadeau, no livro "A História do Surrealismo" aponta a importância de Rimbaud para o Surrealismo, resgatando uma frase de André Breton escrita originalmente em "Caractères de l'evolution moderne", Les Pas Perdus: "Se aquilo que ele traz de 'baixo' tem forma, ele dá forma; se é informe, ele dá o informe." (Breton citado por Nadeau, p.41)

E Nadeau continua: "O importante é não romper a corrente, manter esta atividade fora das preocupações da arte e da beleza. O risco vale a pena: trata-se nada mais nada menos de chegar ao desconhecido. Neste contexto, o poeta se faz 'vidente', 'ladrão de fogo', 'multuplicador de progresso', à custa de 'horrível trabalho'." (p.41)

segunda-feira, 8 de março de 2010

sábado, 6 de março de 2010

Resumo para o CBHA: escritos de artista e os arquivos em transformação

Ao longo do séc. XX, muitas foram as discussões acerca da neutralidade do documento. Já em 1940, Walter Benjamin, nas suas teses Sobre o conceito da História, apontava a barbárie que envolve o processo de documentação da cultura, evidenciando assim o caráter político presente no momento de seleção, formação, conservação, interpretação e uso desses arquivos. Também Michel Foucault, em A Arqueologia do saber, revisa os conceitos de documento e de arquivo que a mutação dos paradigmas da história, quando entendida como uma discursividade em processo, tornaria possível. Nesse sentido, é a partir de 1960/70, com as revisões pós-estruturalistas da história e com a expansão das linguagens artísticas, que a relação entre obra de arte e o seu processo de documentação e de circulação – que inclui os escritos de artista – torna-se mais complexa e estreita. Os próprios documentos do e/ou sobre o processo passam a ser exibidos também como obra, num jogo ambíguo e crítico em que o artista questiona, ao mesmo tempo, os estatutos de obra e documento, circunscrevendo-os a um tempo e lugar específico. As perguntas que permeiam essas manifestações artísticas estão na própria base do conceito de arquivo. Segundo Jacques Derrida, o arquivo, em sua etimologia, remonta-nos à palavra grega arkhé, que condensaria um duplo significado: o de começo e o de comando. Afinal, não estariam os artistas, ao organizarem seus escritos em arquivos, perguntando a quem caberia o poder de custódia da memória? Ao oferecer a público os documentos do e/ou sobre o processo artístico, e não apenas a obra de arte única e acabada, vemos pois uma posição política provinda dos artistas. Abordarei algumas delas nesta proposta de comunicação, com especial enfoque no estudo de caso sobre os livros da série Documento Areal, publicação realizada desde 2001 pela Associação Cultural Arena, com sede em Porto Alegre, que, ao longo desses anos, vem estendendo a público livros organizados por artistas que tratam do processo de criação e da problemática da documentação da obra de arte. Entre as publicações, serão analisados os livros assinados pelos seguintes artistas: Karin Lambrecht, Hélio Fervenza, Maria Helena Bernardes, Elaine Tedesco. Afinal, ao documentarem suas experiências efêmeras através da escrita, estariam os artistas atuando como uma espécie de arquivista/intérprete de sua produção e aproximando crítica e criação? De que modo?

segunda-feira, 1 de março de 2010

Parte I: O menino sem rosto


Com a luz refletida no rosto, ela sentia a pele esbranquiçar sob efeito do sol nascente. Era hora de se levantar.
Tão logo pulou da cama descalça, ela se dirigiu ao banheiro. Após lavar o rosto com água bem fria e suspirar, soprou, com toda força que tinha, o ar para fora de si naquela hora da manhã. Enquanto isso, observava aliviada as gotículas de água escorrerem pelo rosto. Preferiu não secá-lo na toalha. As bochechas molhadas e enrubrecidas faziam assim uma engraçada combinação com a sua camisola vermelha de cetim.
O dia estava iluminado e, diante daqueles interiores do apartamento, ela não necessitava mais de seu passeio diário. Decidiu assim ficar em casa, na companhia do sol. Mas o dia estava virando.
Ao olhar para as paredes, fixando-se na bela textura luminosa que projetava-se sobre a tinta escura, avistou a silhueta negra de um menino sem rosto, como se os fantasmas de sua casa de infância estivessem voltando.
No entanto, sem ver seu rosto, ela não podia dizer que já o conhecia. Naquele instante, sentia-se diante de um estranho. Mas o menino falava com ela, dizia-lhe algo incompreensível. O tom era seco. Ele não sorria. Ela pediu-lhe várias vezes que repetisse, pois era difícil diferenciar suas sílabas. Estaria o menino bravo? Ou ele queria apenas assombrar-lhe? Onde estaria o seu rosto?
"Aproxime-se", disse ela.
Mas o menino relutou dizendo:
"É melhor mantermos a distância".
Foi a primeira frase que ela pôde compreender. Em seguida ela perguntou-lhe:
"Mas por que mantermos distância? Não entendo o que dizes".
Silêncio. O menino disse mais duas ou três frases incompreensíveis, embora o tom fosse reconhecidamente seco. Foi quando ela perguntou a ele:
"Por que tanta secura?"
E o menino retrucou com facilidade:
"Essa secura aprendi aqui".
Ela compreendeu o som das palavras, mas não captava o sentido. Colocou a mão no rosto e ainda podia senti-lo molhado da água fria da torneira. Avistava suas próprias palavras contra o sol e elas pareciam respingar um vapor úmido, junto com a poeira revelada pelo feixe de luz. Ela perguntava-se, em silêncio, desde quando o menino sem rosto a conhecia, o que ela fizera para parecer-lhe tão seca?
"Eu? Seca?", ela perguntou àquele rosto vago.
E ele respondeu:
"És pura instabiliade, um dia estás seca e no outro, acordas molhada."
E assim o menino desapareceu na penumbra. Não havia mais sombra projetada, nem era mais possível regar a conversa. A luz tornava-se difusa, pois o dia estava nublando.