sábado, 13 de outubro de 2018

Exposição Olho d'água - Lilian Maus (curadoria: Marcio Harum)



Vinte e três lagoas delineiam a cidade de Osório/RS, onde a artista e professora de pintura da UFRGS Lilian Maus passou parte da infância. Há sete anos Lilian resolveu voltar para essa cidade e instalar lá o seu ateliê. Essa planície litorânea, repleta de charcos, ao ser entrecortada pela Serra Geral, atua como um corredor para os fortes ventos que afetam permanentemente a região, alimentando não apenas os cataventos da usina eólica instalada, como também as histórias fantásticas contadas pela comunidade. Essas lagoas são fontes de inúmeras lendas. Foi a partir da exposição Soçobro (2017), em que Lilian resgatou, por meio de pinturas, fotografias, artigos de jornal e mapas, a história do maior naufrágio lacustre do Rio Grande do Sul, que ela e o curador Márcio Harum estabeleceram um diálogo além da arte. Um ano após essa conversa fecunda surge a exposição Olho d'água, em que a lagoa dos Barros é o objeto de investigação da artista. O projeto resulta da parceria artística com o cineasta e artista Muriel Paraboni e conta com a participação do pescador José Ricardo de Queirós e do ator Cacá Toledo, além do fotógrafo Marcus Jung, do músico Edu Bocchese e da cineasta Thais Fernandes. Na exposição, Lilian Maus cria um enredo fantástico narrado através da imersão do espectador em vídeos, instalações, pinturas e fotografias de arquivo que propõem uma travessia silenciosa por águas doces nessa paisagem melancólica repleta de mistérios.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

PINTURA AOS PEIXES - exposição de Lilian Maus no stand Galeria Aura, ARTRIO 2018

A Galeria Aura traz à ARTRIO, de 26 a 30/10/2018, a produção de Lilian Maus (Salvador/BA, 1983), artista visual e professora do Instituto de Artes da UFRGS, Doutora em Poéticas Visuais e Mestre em História, Teoria e Crítica de Arte. Lilian reside entre Osório e Porto Alegre, onde geriu o Atelier Subterrânea (2006-2015). Desde 2004, a artista participa de residências, salões e exposições nacionais e internacionais. Recebeu prêmios do MinC, da Funarte e de Secretarias da Cultura dos estados de Pernambuco e Rio Grande do Sul.

Lilian Maus busca traçar, através de suas obras, uma profunda investigação sobre a fenomenologia da paisagem. Desde 2012, quando transferiu seu ateliê para Osório, a artista produz seu trabalho a partir da interação com esse lugar. Suas pinturas são uma espécie de travessia entre as experiências do estúdio e as incursões que realiza na paisagem natural, a partir de caminhadas, navegações e vôos livres. Na exposição Pintura aos peixes, exibida no stand da Aura, ARTRIO 2018, a artista apresenta trabalhos da série Área de Cultivo e Sermão aos peixes, a partir de uma instalação cujo fio condutor é a água, tendo em vista que seu ateliê está cercado por 23 lagoas do litoral norte do RS. O conjunto de obras integra o projeto OLHO D'ÁGUA: por uma poética de travessia, que terá nova mostra inaugurada 25 de outubro, na Galeria Aura (Wizard, 397, São Paulo).


A partir da lição deixada por Jasper Johns na obra Diver, Lilian também concebe a pintura como um mar onde o pintor/mergulhador deve imergir nas profundezas misteriosas, reservando sempre fôlego para retornar à superfície. Segundo Bachelard (1989), o ser voltado à água é “um ser em vertigem. Morre a cada minuto.” É a partir dessa água que corre, cai e morre na horizontal que as imagens da artista brotam como aguapés, por fortuna ou leveza, do suporte encharcado junto ao chão. Tentando apre(e)nder essa paisagem, a Lilian dissolve o conhecido no desconhecido e vice-versa, fazendo as imagens flutuarem no plano do quadro e inundarem o espaço do espectador. 
 
O avanço às profundezas aquáticas é também um retorno às nossas origens. O mar, que há bilhões de anos deu origem à vida, até meados do séc. XV, apresentava-se como barreira intercontinental intransponível para a humanidade, marcando um limite entre vida e morte, natureza e cultura. No entanto, a promessa de alcançar as terras incógnitas fez do próprio mar o tema central da geopolítica europeia do século XV ao XVIII. Foi mediante à promessa de chegada no Paraíso Terreal que os colonizadores vieram às Américas. Mas a fantasia do Jardim do Éden seria contrária às experiências vividas na viagem, como bem nos lembrará o Padre António Vieira, em seu célebre Sermão de Santo António aos peixes (1654), uma das referências que alicerçam a exposição. 

 Exposição Pintura aos peixes - ARTRIO 2018