Lilian
Maus busca traçar, através de suas obras, uma profunda investigação
sobre a fenomenologia da paisagem. Desde 2012, quando transferiu seu
ateliê para Osório, a artista produz seu trabalho a partir da
interação com esse lugar. Suas pinturas são uma espécie de
travessia entre as experiências do estúdio e as incursões que
realiza na paisagem natural, a partir de caminhadas, navegações e
vôos livres. Na exposição
Pintura aos peixes,
exibida no stand
da Aura, ARTRIO 2018, a artista apresenta trabalhos da série Área
de Cultivo
e Sermão
aos peixes,
a partir de uma
instalação cujo fio condutor é a água, tendo em vista que seu
ateliê está cercado por 23 lagoas do litoral norte do RS. O
conjunto de obras integra o projeto OLHO
D'ÁGUA: por uma poética de travessia,
que terá nova mostra inaugurada 25 de outubro, na Galeria Aura
(Wizard, 397, São Paulo).
A
partir da
lição deixada por Jasper Johns na obra Diver,
Lilian também concebe a pintura como um mar onde o
pintor/mergulhador deve imergir nas profundezas misteriosas,
reservando sempre fôlego para retornar à superfície. Segundo
Bachelard (1989),
o ser voltado à água
é “um
ser em vertigem. Morre a cada minuto.”
É a partir dessa água que corre, cai e morre na horizontal que as
imagens da artista brotam como aguapés, por fortuna ou leveza, do
suporte encharcado junto ao chão. Tentando apre(e)nder essa
paisagem, a Lilian dissolve o conhecido no desconhecido e vice-versa,
fazendo as imagens flutuarem no plano do quadro e inundarem o espaço
do espectador.
O
avanço às profundezas aquáticas é também um retorno às nossas
origens. O mar, que há bilhões de anos deu origem à vida, até
meados do séc. XV, apresentava-se como barreira intercontinental
intransponível para a humanidade, marcando um limite entre vida e
morte, natureza e cultura. No entanto, a promessa de alcançar as
terras incógnitas fez do próprio mar o tema central da geopolítica
europeia do século XV ao XVIII. Foi mediante à promessa de chegada
no Paraíso Terreal que os colonizadores vieram às Américas. Mas a
fantasia do Jardim do Éden seria contrária às experiências
vividas na viagem, como bem nos lembrará o Padre António Vieira, em
seu célebre Sermão
de Santo António aos peixes
(1654), uma das
referências que alicerçam a exposição.
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