quarta-feira, 9 de março de 2016

No útero da linguagem - instalação de Lilian Maus, 2015


A instalação "No útero da linguagem", foi apresentada por mim no espaço Complex, para o projeto Adidas/Superstar - Porto Alegre, no dia 3 de outubro.


O poeta francês Francis Ponge costumava dizer que descobriu a poesia como um método para fazer as coisas mudas falarem. Foi assim que escreveu “O partido das coisas”, obra em que se alegrava dando ao mundo formas arbitrárias e banais, tais como a esponja da sua banheira ou um buraco de fechadura com uma chave dentro. Em sua poesia, Ponge costumava resgatar não aquilo que brilha e salta aos olhos, mas aqueles objetos que costumam se perder na periferia opaca do olhar.
Talvez hoje, nas cidades, tenhamos restringido aos observatórios astronômicos o culto antigo de observação dos astros. As estrelas não ditam mais nosso destino, elas nos parecem mais opacas. Não apenas nossas casas e ruas iluminadas à noite ofuscam o seu brilho, como também nossos iphones e smartphones passaram a produzir constelações de outra ordem, em que um simples clique no touch screen concretiza a celebração de uma nova estrela, cuja existência não ultrapassa, por vezes, a casa dos segundos.
À medida que nossa codificação do mundo avança, acabamos nos afastando dos nossos referentes. No entanto, a poesia tem esse poder de nos fazer retornar, de provocar certos desmoronamentos na linguagem, a ponto de abrir fissuras nas palavras. A instalação “No útero da linguagem” brota dessas rachaduras comuns à poesia e à linguagem dos infantes. E faz dos escombros do termo “superstar” um possível abrigo e simulacro celeste, onde torna-se possível uma prosa do mundo, em que corpo, mente, palavras e coisas convivem e se desdobram no espaço, como um crochê alinhavado aos poucos.

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